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18 setembro 2024

Capitulo 10 - Tudo e nada, a concepção da loucura frenética

 


 

"A única diferença entre um louco e eu é que eu não sou louco."

Salvador Dali

 

   Como em um sonho me vi caindo infinitamente, durante a queda infinita, não senti nada, não pensei em nada, apenas cai como um corpo sem alma naquele vazio negro imensurável, um preto tão solido que era como se meus olhos, mesmo abertos, estivessem fechados, não ouvia nada, nem se quer o som do vento, apenas aquela sensação de queda; não havia ruido, não havia mais nada ali além de uma proeminência esquálida de uma infundida grande melancolia lúgubre que tomava meu coração e minha mente, quase como uma doença terminal aos olhos de um pai ao filho. Era sem sombra de dúvidas, um sentimento de catarse, uma tristeza grande que me consumia, senti-a a todo instante calafrios que percorriam meu amago, sentia-me deprimido e minha única razão ali era me espatifar no chão com tamanha força que não me fizesse sentir dor e me aliviasse daquele sentimento horrível que eu sentira naquela hora.

   A voz, eu me lembro dela; me chamava e dizia coisas sobre mim que nem mesmo eu sabia, senti-me louco, pois a voz ecoava em um local onde não havia eco, era algo inusitado, tão impossível de sancionar e significar quanto tentar explicar a um fazendeiro a proeminência de um fogo-fátuo. Vi-me enlouquecendo de vez, chamei aquela queda de “O poço infinito”, vi-me preso em todos meus passado, de diferentes vidas, vi tudo; começo, meio e fim. E no fim, nada parecia fazer sentido, afinal, tudo acabou se tornando uma coisa retilínea, meu passado, presente e futuro se tornaram uma coisa só, como um rolo de filme; observei-me atravessando o vale das dimensões, observei algo curioso, algo que me arrepiou a espinha tão profundamente que me fez cair em uma loucura tão frenética. Presenciei a quarta dimensão de forma casual, vi o tempo como algo inerte e inerente a tudo, algo como, para os humanos tolos agora, ver um simplório animal andando na rua, sim, para mim naquele momento o tempo era algo tão singelo quanto isso para vós. Foi então que aconteceu, eu finalmente estava caindo rumo a ela, a quinta dimensão e lá eu realmente entendi, nada foi acaso, tudo foi plenamente arquitetado pelo arquiteto mais perfeito que existe, aquele que já estava aqui antes de tudo; caindo até o preto absoluto, o centro do Escuro, me vi frente a frente com todas as minhas realidades, vi todas as versões de mim mesmo, a vós lhes digo, que o que eu vira naquele momento me espantou muito, pela primeira vez senti-me assustado e com medo, tal qual uma criança ficaria ao ver um urso na floresta. Quando olhei as diferentes dimensões eu não vi absolutamente nada, era como se só existisse uma versão minha dentre todos os possíveis multiversos e foi ai que eu vi ele, Magnus, ao observar tudo e nada ao mesmo tempo, em uma entropia paracausal tamanha que um simples humano ao ver tamanho ser incomensurável, simplesmente morreria e sua existência seria apagada e somada ao Escuro.

   Eu vi a face de Magnus, vi aquele ser inefável e transcendental e vos digo uma coisa, é impossível eu mensurar a vós sua aparência, afinal, é diferente de tudo que já vi, sinto que meus olhos enxergam coisas além do espectro real, vi cores que jamais vi em minha vida inteira, observei fenômenos pequenos e imensuráveis como o Big-Bang se tornarem apenas pequenos grãos de areia em um deserto infinito; lhes digo que há muito mais do que a incumbência da racionalidade e do real na figura de Magnus. Caindo infinitamente eu então notei, que na verdade aquilo era o chão e cair ali era de fato algo metafisico, a sensação então se tornou lucida a mim e eu finalmente compreendi os fundamentos daquele lugar, finalmente ao ver Magnus eu compreendi o que era o Escuro; peguei-me pesando algo “Se nossos olhos, dão a nós a concepção de realidade visível e nosso corpo, espaço e física, dão a nós a concepção da realidade material, se a mente nos dá a conceção da realidade cognitiva e a religião dos dá a concepção do que espiritual, então é isso...

 

O Escuro nos dá a conceção da Hiperdimensionalidade Ultraetérica.

 

   Ao ver Magnus eu finalmente entendi tudo, a entropia de sua realidade e o que de fato era o Escuro; ele então me disse: “Filius prodigus domum redit; faciam ut memineris quis sis...” ¹. Juro-lhes de pé junto, que nunca entendi de fato latim; mas o que Magnus disse naquele dia eu solenemente lhes digo que eu assimilei, entendi logo no fim de sua sentença, afinal, meu destino ali já era traçado e por esse motivo eu compreendi por que dentre todas as realidade que vi, somente eu como eu, existia em uma somente.

   Ele se aproximou de mim e tomou uma forma humana; nunca havia visto algo daquele jeito, a nostalgia era tão proeminente quanto o próprio medo que eu senti, ao se aproximar um pouco eu me recordo das palavras que disse a ele, tampando os olhos com as mãos eu disse “Não quero ver, muito menos sentir, me mate por favor!”. Eu implorei a ele, mas de nada adiantou, pois em resposta, Magnus me disse “Itaque audi...”. Senhores, lhes digo algo, o som que eu ouvi me deu uma sensação lúdica tão confortavelmente frenética e melancólica que senti pela primeira vez, todos meus sentimentos aflorando de uma vez só, pensava naquele momento que de fato, aquela era a hora da minha morte. A sinfonia da loucura proeminente reverberava em meus ouvidos me causando um irreprimível horror que consumia meu amago e minha própria alma de tal modo que me senti despersonificado definitivamente após aquele dia.

Digo-lhes agora, mais do que nunca, que naquele dia fatídico eu por fim, fiquei louco!

 

¹ - Em latim: O filho prodigo a casa retorna; vou lhe fazer se lembrar de quem és tu...

² - Em latim: Então ouça...


Capitulo 9 - O salto de fé

 


 

“A loucura, de fato, é o começo de todas as coisas essenciais.”

Hermann Hesse

 

   Me lembro com detalhes do dia em que finalmente cheguei no fim do mundo, era magnifico! Após vagar pelo deserto desolado e monótono no escuro, via-me eu, o cavalo e a porta frente a frete da maior complacência que já havia visto em toda a minha existência, infelizmente não consigo mensurar lhes a incumbência da magnitude daquele esplendoroso e suntuoso, repleto de detalhes mórbidos e uma paisagem estonteante de um vazio imensurável; estava eu então no fim do mundo? Senti ali uma soberba de saber infinito, a ostentação de detalhes moribundos a uma concepção de realidade desprezível, me dava naquele finalmente, a sensação de paz que eu buscava durante toda minha simplória vida, eu ali, diante do fim então, compreendi o que a meu ver era inexorável, entendi o sentido da vida.

“Diante daquele magnifico tesouro, que de fato era real, ele riu!”

Eiichiro Oda

   

   Perante a magnificência daquela obra de arte divina, na qual os deus e demônios se juntaram para que em um dia de paz entre a guerra santa entre as dualidade, pudessem então pincelar tamanha obra fastuosa que era “O Escuro”. Sim senhores, senhoritas e entidades presente; o fim do mundo, nada mais é do que a loucura daqueles que se sentem livres e de fato não são, eu em minha incumbência, vendo os vislumbres desnorteantes daquele lugar dotado da absoluta perfeição, ri, gargalhei, chorei e por fim, me joguei!

   Junto da porta, que amarrada em minhas costas como a cruz de cristo, senti-me o mártir de um novo eu, senti-me livre para fazer o que eu quisesse, joguei-me naquele vazio imensurável, atirei-me a um vislumbre de um futuro que eu, enquanto vivo e sem destino escrito, escolhi por livre e espontânea vontade fazer. Dei-me a rir enquanto caia infinitamente por um poço tomado de uma escuridão tão vil, que era incapaz de um ser humano ver sua verdadeira cor; o preto absoluto daquele poço infinito tomou-me o coração assim como um príncipe anseia pelo beijo doce de sua amada princesa. Ressoou-me cores nítidas em minha mente, quatro eram no total; verde, roxo, azul e amarelo, destes o sussurro do complacente dono daquela magnificência de incumbência inimaginável me disse de fato, em latim “Hi sunt quattuor fundamenta” ¹. Eu não precisava entender seu dialeto, as palavras vinham em latim em minha mente, pois esta era a língua mais antiga que eu enquanto vivo, conhecia. Balbuciei e gritei, como louco; notei-me enfim a beira de um colapso psicótico ao ouvir as palavras do ser que rege aquele lugar profano a tudo racional, seu nome ele sussurrava “Magnus, O Escuro”.

   No salto de fé, me desprendendo de toda a concepção de realidade e racionalidade, fiz-me uma alusão em minha mente, do desespero alheio de todos que já vi, ouvi deles, o sussurro da morte; ela me disse um nome “Lilith”; recordo-me de suas palavras doces, tão tênues e calmas que me fizeram ficar completamente apaixonado, louco, estava eu ficando louco? Louco pelo beijo da morte? Estaria eu em um delirium de enfim deparar-me frente a frente com a morte e então finalmente, após aquele beijo, descansaria as minhas pupilas eternamente. Eu estava caindo, caindo em um buraco sem fundo e me recordo de um poema escrever usando como base o desespero frenético que sentira naquela hora.

Da loucura dos homens, enfim estou livre

Ao fundo eu me atirei

Sem pensamentos recorrentes

Estou eu, finalmente livre?

Livre para viver, livre para pensar

Para agir e para sentir

Pois é isso que eu quero mais que tudo

Escolhes parar de sentir

Quero a minha morte alcançar

E então o meu sofrimento sessar!

   Vi-me em um devaneio repleto de loucura, frenesi e medo; a medida que eu ia caindo, fui vendo reflexos de minhas vidas passadas, vi qual era meu destino naquela vida, escutei do Deus do escuro, qual era o sentido da minha vida enquanto humano, mas algo me intrigou. Estaria eu então me despersonificando do meu eu social e então me tornando algo a mais? Estaria eu deixando de ser humano?! Como é essa sensação? Tudo era estranho para mim naquele momento, tudo parecia diferente, o sentimento de catarse era algo bom e alegria algo ruim, vi-me rindo inúmeras vezes e sempre em desespero enquanto caia infinitamente naquele vazio inexorável, virei-me para cima e exclamei “Se alguém nesse lugar lúgubre me ouve eu clamo, tire-me a vida e acabe então com esse sofrimento eterno!”. Algo balbuciou naquele escuro infernal, alguma coisa havia ouvido minha prece, sinto percorrendo pela minha pele um temor difícil de explicar, hoje sei bem quem me chamou, hoje compreendo de fato as coisas que aconteceram naquele dia e posso lhes dizer, para resumir, um proverbio que resumiria minha situação naquele dia “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”.


Capitulo 10 - Tudo e nada, a concepção da loucura frenética

    "A única diferença entre um louco e eu é que eu não sou louco." Salvador Dali      Como em um sonho me vi caindo infin...