"A única diferença entre um
louco e eu é que eu não sou louco."
Salvador Dali
Como em um sonho me vi caindo infinitamente, durante a queda
infinita, não senti nada, não pensei em nada, apenas cai como um corpo sem alma
naquele vazio negro imensurável, um preto tão solido que era como se meus
olhos, mesmo abertos, estivessem fechados, não ouvia nada, nem se quer o som do
vento, apenas aquela sensação de queda; não havia ruido, não havia mais nada
ali além de uma proeminência esquálida de uma infundida grande melancolia
lúgubre que tomava meu coração e minha mente, quase como uma doença terminal
aos olhos de um pai ao filho. Era sem sombra de dúvidas, um sentimento de
catarse, uma tristeza grande que me consumia, senti-a a todo instante calafrios
que percorriam meu amago, sentia-me deprimido e minha única razão ali era me
espatifar no chão com tamanha força que não me fizesse sentir dor e me
aliviasse daquele sentimento horrível que eu sentira naquela hora.
A voz, eu me lembro dela; me chamava e dizia coisas sobre
mim que nem mesmo eu sabia, senti-me louco, pois a voz ecoava em um local onde
não havia eco, era algo inusitado, tão impossível de sancionar e significar
quanto tentar explicar a um fazendeiro a proeminência de um fogo-fátuo. Vi-me
enlouquecendo de vez, chamei aquela queda de “O poço infinito”, vi-me preso em
todos meus passado, de diferentes vidas, vi tudo; começo, meio e fim. E no fim,
nada parecia fazer sentido, afinal, tudo acabou se tornando uma coisa
retilínea, meu passado, presente e futuro se tornaram uma coisa só, como um
rolo de filme; observei-me atravessando o vale das dimensões, observei algo
curioso, algo que me arrepiou a espinha tão profundamente que me fez cair em
uma loucura tão frenética. Presenciei a quarta dimensão de forma casual, vi o
tempo como algo inerte e inerente a tudo, algo como, para os humanos tolos
agora, ver um simplório animal andando na rua, sim, para mim naquele momento o
tempo era algo tão singelo quanto isso para vós. Foi então que aconteceu, eu
finalmente estava caindo rumo a ela, a quinta dimensão e lá eu realmente
entendi, nada foi acaso, tudo foi plenamente arquitetado pelo arquiteto mais
perfeito que existe, aquele que já estava aqui antes de tudo; caindo até o preto
absoluto, o centro do Escuro, me vi frente a frente com todas as minhas
realidades, vi todas as versões de mim mesmo, a vós lhes digo, que o que eu
vira naquele momento me espantou muito, pela primeira vez senti-me assustado e
com medo, tal qual uma criança ficaria ao ver um urso na floresta. Quando olhei
as diferentes dimensões eu não vi absolutamente nada, era como se só existisse
uma versão minha dentre todos os possíveis multiversos e foi ai que eu vi ele,
Magnus, ao observar tudo e nada ao mesmo tempo, em uma entropia paracausal
tamanha que um simples humano ao ver tamanho ser incomensurável, simplesmente
morreria e sua existência seria apagada e somada ao Escuro.
Eu vi a face de Magnus, vi aquele ser inefável e transcendental
e vos digo uma coisa, é impossível eu mensurar a vós sua aparência, afinal, é
diferente de tudo que já vi, sinto que meus olhos enxergam coisas além do
espectro real, vi cores que jamais vi em minha vida inteira, observei fenômenos
pequenos e imensuráveis como o Big-Bang se tornarem apenas pequenos grãos de
areia em um deserto infinito; lhes digo que há muito mais do que a incumbência
da racionalidade e do real na figura de Magnus. Caindo infinitamente eu então
notei, que na verdade aquilo era o chão e cair ali era de fato algo metafisico,
a sensação então se tornou lucida a mim e eu finalmente compreendi os
fundamentos daquele lugar, finalmente ao ver Magnus eu compreendi o que era o
Escuro; peguei-me pesando algo “Se nossos olhos, dão a nós a concepção de
realidade visível e nosso corpo, espaço e física, dão a nós a concepção da
realidade material, se a mente nos dá a conceção da realidade cognitiva e a
religião dos dá a concepção do que espiritual, então é isso...
O Escuro nos dá
a conceção da Hiperdimensionalidade Ultraetérica.
Ao ver Magnus eu finalmente entendi tudo, a entropia de sua
realidade e o que de fato era o Escuro; ele então me disse: “Filius prodigus
domum redit; faciam ut memineris quis sis...” ¹. Juro-lhes de pé junto, que
nunca entendi de fato latim; mas o que Magnus disse naquele dia eu solenemente
lhes digo que eu assimilei, entendi logo no fim de sua sentença, afinal, meu
destino ali já era traçado e por esse motivo eu compreendi por que dentre todas
as realidade que vi, somente eu como eu, existia em uma somente.
Ele se aproximou de mim e tomou uma forma humana; nunca
havia visto algo daquele jeito, a nostalgia era tão proeminente quanto o
próprio medo que eu senti, ao se aproximar um pouco eu me recordo das palavras
que disse a ele, tampando os olhos com as mãos eu disse “Não quero ver, muito
menos sentir, me mate por favor!”. Eu implorei a ele, mas de nada adiantou,
pois em resposta, Magnus me disse “Itaque audi...”. Senhores, lhes digo algo, o
som que eu ouvi me deu uma sensação lúdica tão confortavelmente frenética e
melancólica que senti pela primeira vez, todos meus sentimentos aflorando de
uma vez só, pensava naquele momento que de fato, aquela era a hora da minha
morte. A sinfonia da loucura proeminente reverberava em meus ouvidos me
causando um irreprimível horror que consumia meu amago e minha própria alma de
tal modo que me senti despersonificado definitivamente após aquele dia.
Digo-lhes agora, mais do que nunca, que naquele dia fatídico
eu por fim, fiquei louco!
¹ - Em latim: O filho prodigo a casa retorna; vou lhe fazer
se lembrar de quem és tu...
² - Em latim: Então ouça...
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