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18 setembro 2024

Capítulo 3 - Prazer, pecado!

 


   Este relato que contarei a vocês, foi sem sombra de dúvida um dos mais perturbadores de toda a minha vida. A história que irei lhes contar a seguir se passa no ano de 1711, eu tinha por volta de meus 20 anos de idade e estava indo para minha primeira noite de núpcias com uma filha de um burguês da Transilvânia, dono da maior confraria de vinho do sul da Espanha, a companhia era renomada e conhecida por toda a Europa por fornecer a condes e duques, rei e aristocratas o melhor do vinho espanhol. Naquela noite, eu e Seranna saímos escondidos de uma festa que estava acontecendo no casarão de sua família e fomos as pressas a casa do caseiro da fazenda, Seranna havia me dito que o homem estava fora e que não havia ninguém lá, ela também dizia que sabia exatamente onde ele escondia a chave do casebre pois a janela de seu quarto dava diretamente para a frente da casa do velho homem. Chegando à porta da pequena casa simples, Seranna ainda de mãos dadas a mim (Eu agora um prodígio médico de uma família de médicos renomadas). Recordo-me que meu pai arranjou-me um casamento com a filha de um de seus amigos médicos, ela se chamava Martina, era uma garota meiga e com traços bonitos; mas nada comparado aos olhares profundos daquela burguesa Romena, uma vampira que sugava cada gota de amor e prazer que eu lhe podia ofertar-lhe, eu a amava com tamanha intensidade que até cogitei a possibilidade de largar tudo para viver com ela ao ventos do mar, em um navio pesqueiro, sobrevivendo apenas de peixe e amor.

   Seranna puxou-me os braços e beijou-me, ao empurrar um balde com os pés, ela se abaixou dando-se de costas para mim a fim de pegar a chave que estava no chão, eu que de bobo não tinha nada, puxei-lhe ao meu encontro com tamanha luxuria que minhas mãos contornavam seu corpo enquanto ela de modo proposital se levantava lentamente roçando seu corpo genuinamente atraente no meu, o ar ficava mais pesado a medida que ela ia subindo e eu me sentia ofegante, puxei-lhe o cabelo e trazendo seu pescoço a minha boca a beijei dizendo a ela de modo cômico, da forma que sempre brincávamos “Eu também sei seus artifícios vampira esguia, vou lhe mostrar a estaca de madeira logo, logo...”. Seu sorriso meigo e safado me cativavam, seu olhar sedento e aquele corpo esbelto, seus cabelos curtos pretos e sua postura firme, junto daquele corset decotado que ela havia vestido por baixo do vestido (Ela o havia arrancado fora antes de sairmos do casarão, estava somente de calça, sapato e corset). Aquilo me deixava louco, louco como um navio sem leme em um mar agitado, sentia um fogo que queimava-me toda a razão, era levado pelo veneno doce daquela mulher atraente que eu tanto amava.

   Entrando na casa simples, me lembro de trancar a porta e de termos ido direto para cama, no caminho até lá lembro ter tirando-lhe o corset e tomando-a em meus braços por completo, senti-a com detalhes sortidos que somente um médico ou um homem apaixonado poderia sentir, o aumento da pulsação, a respiração entrecortada e o arrepio na pele quando eu demasiadamente beijava-lhe com intensidade enquanto apertava-lhe à aquelas almofadas macias, meus dedos ligeiros a denegriam a sua imagem forte, uma donzela que agora a gritos de prazer se dizia minha e somente minha; naquela noite, as paredes da casa tremeram e ouviram coisas insalubres, a cama do velho homem, coitado, estava agora no chão com seus pés quebrados, ela ainda ofegante agora deitada em meu busto tentava a todo custo retomar a razão após um coito tão enérgico e repleto do mais puro sentimento de amor e prazer, algo como uma verdadeira utopia de amor. Porém nem tudo naquela noite girava em torno do mar de rosas que era o toque suave de seu ventre em meu rígido corpo; eu sentia aquele sentimento esgueirando nossa noite de núpcias, algo como se alguém, naquele maldito lugar, quisesse falar comigo, por educação ele esperou e se manteve em silencio. Me recordo de Seranna ter abruptamente tirado aquele sentimento de mim por alguns segundos com uma proposta indecente, algo que lhe ofertara a mim que a meu ver era irrecusável, suas palavras eram como um recital de poesia na praça mais linda de Madrid; seu som enérgico em tom de ordem, pedindo-me aquilo, algo tão sujo e que me chamou tanto a atenção em fizeram agir como um animal naquela noite, mas minha mente naquele momento não estava completamente em sintonia com o corpo macio e desprovido de roupas de Seranna, minha mente esta em sintonia com um simples pensamento “O que quer?”. Enquanto meu corpo se movia em movimentos fluidos, como as ondas do oceano se chocando contra uma costa de um continente, uma voz sussurrou do escuro para mim dizendo “Assim que acabar me avise, precisamos conversar...”. Eu lhes serei sincero, a muito minha curiosidade me chamou mais que os prazeres funestos e simplórios da carne humana, mas naquela noite, com aquela proposta indecente de Seranna eu me recusei a dar ouvidos a meus instintos curiosos e me mantive ali com minha amada, durante toda a noite, até que em um vislumbre me lembro de ter caído em um sono profundo devido ao extremo cansaço.

   No dia seguinte me recordo de acordar e ver a cama caída no chão, Seranna estava em uma posição indigna a alguém de sua casta social deitada entre a cama e o chão com suas pernas levantadas, subitamente notei que já era manhã e ouvi o cantar dos galo, em uma duvida mortal me encontrava, ficava um pouco mais com minha amada ali naquela casa ou a acordava para irmos embora antes que os aristocratas levantem com ressaca da grande festa e comecem a notar a nossa ausência, sentindo os feromônios pulsarem de meu corpo acabei cedendo a um instinto animal e puxando Sernna para meu encontro, ela acordou ligeiramente assustada mas não parecia incomodada com a ideia, por algumas horas aproveitamos a presença um do outro e saciando o resto de desejo e vontade que tínhamos remanescentes em nossos corpos ficamos ali. Quando o sol batera na janela do quarto rapidamente nos vestimos e saímos as pressas da casa do velho homem; algo estava errado, eu sabia que estava esquecendo de algo e assim que toquei a maçaneta da porta para sairmos daquele casebre, aquele maldito silencio, tudo ficou escuro, já não havia mais som algum além da nossa respiração, senti Seranna me agarrar com força e me recordo precisamente de suas palavras “Amor, o que está acontecendo?”. Quando me virei para sua direção vi aquela silhueta vil novamente, a criatura quadrupede estava deitada na cama, eu puxei Seranna para minhas costas e a disse “Haja o que houver, não saia de perto de mim”. A criatura articulava com seu dedo necrosado em sinal de negação, balançando seu indicador de um lado para o outro, lembro de suas palavras ecoando em minha mente enquanto eu abraçava firmemente Seranna em meus braços, a criatura me disse em tom de descontentamento “Não podemos permitir que você seja feliz ou triste, devemos salientar que o que fizera na ultima noite com o receptáculo dessa alma não se repetira, devido a ultima barganha, seu contrato foi selado e agora, vós és um com o escuro, saiba de seu lugar Enoque.”. Novamente dos detalhes sortidos daquele dia eu não me recordo, mas lembro de flashes, terríveis flashes que me amedrontam até os dias de hoje, lembro-me de Seranna em meus braços enquanto eu chorava, o salão do casarão de sua família estava todo tingido de sangue, ela estava com um olhar frio e já não se mexia mais, no centro daquele casarão uma pilha de corpos dava lugar a criatura que sentada em cima dos cadáveres olhava em minha direção, eu que sem conseguir sentir nada naquele momento, nem raiva, nem tristeza, nada, olhava para os olhos mortos da minha amada, agora sem vida em meus braços. Tomado por uma loucura profana e infame, me vi perdido em um frenesi amaldiçoado, uma psicose irrefreável na qual eu não me recordo de nada, não senti nada naquele dia, mas só naquele dia...

   Os detalhes posteriores a esse dia ser tornaram sombrio, me recordo dos militares chegando e me levando para a prisão de Sevilla que ficava ao noroeste da minha cidade natal, dos detalhes cinzentos, macabros e sinistros que eu ouvira dos presos sobre meus atos profanos eu me recordo de um deles somente, que eu em minha incumbência, tirei a vida de quem eu mais amava com um sorriso no rosto e gargalhando sem parar, ouvi isso da boca de um preso enquanto os guardas me conduziam para a solitária; naquele dia fui condenado a morte.


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