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18 setembro 2024

Capitulo 9 - O salto de fé

 


 

“A loucura, de fato, é o começo de todas as coisas essenciais.”

Hermann Hesse

 

   Me lembro com detalhes do dia em que finalmente cheguei no fim do mundo, era magnifico! Após vagar pelo deserto desolado e monótono no escuro, via-me eu, o cavalo e a porta frente a frete da maior complacência que já havia visto em toda a minha existência, infelizmente não consigo mensurar lhes a incumbência da magnitude daquele esplendoroso e suntuoso, repleto de detalhes mórbidos e uma paisagem estonteante de um vazio imensurável; estava eu então no fim do mundo? Senti ali uma soberba de saber infinito, a ostentação de detalhes moribundos a uma concepção de realidade desprezível, me dava naquele finalmente, a sensação de paz que eu buscava durante toda minha simplória vida, eu ali, diante do fim então, compreendi o que a meu ver era inexorável, entendi o sentido da vida.

“Diante daquele magnifico tesouro, que de fato era real, ele riu!”

Eiichiro Oda

   

   Perante a magnificência daquela obra de arte divina, na qual os deus e demônios se juntaram para que em um dia de paz entre a guerra santa entre as dualidade, pudessem então pincelar tamanha obra fastuosa que era “O Escuro”. Sim senhores, senhoritas e entidades presente; o fim do mundo, nada mais é do que a loucura daqueles que se sentem livres e de fato não são, eu em minha incumbência, vendo os vislumbres desnorteantes daquele lugar dotado da absoluta perfeição, ri, gargalhei, chorei e por fim, me joguei!

   Junto da porta, que amarrada em minhas costas como a cruz de cristo, senti-me o mártir de um novo eu, senti-me livre para fazer o que eu quisesse, joguei-me naquele vazio imensurável, atirei-me a um vislumbre de um futuro que eu, enquanto vivo e sem destino escrito, escolhi por livre e espontânea vontade fazer. Dei-me a rir enquanto caia infinitamente por um poço tomado de uma escuridão tão vil, que era incapaz de um ser humano ver sua verdadeira cor; o preto absoluto daquele poço infinito tomou-me o coração assim como um príncipe anseia pelo beijo doce de sua amada princesa. Ressoou-me cores nítidas em minha mente, quatro eram no total; verde, roxo, azul e amarelo, destes o sussurro do complacente dono daquela magnificência de incumbência inimaginável me disse de fato, em latim “Hi sunt quattuor fundamenta” ¹. Eu não precisava entender seu dialeto, as palavras vinham em latim em minha mente, pois esta era a língua mais antiga que eu enquanto vivo, conhecia. Balbuciei e gritei, como louco; notei-me enfim a beira de um colapso psicótico ao ouvir as palavras do ser que rege aquele lugar profano a tudo racional, seu nome ele sussurrava “Magnus, O Escuro”.

   No salto de fé, me desprendendo de toda a concepção de realidade e racionalidade, fiz-me uma alusão em minha mente, do desespero alheio de todos que já vi, ouvi deles, o sussurro da morte; ela me disse um nome “Lilith”; recordo-me de suas palavras doces, tão tênues e calmas que me fizeram ficar completamente apaixonado, louco, estava eu ficando louco? Louco pelo beijo da morte? Estaria eu em um delirium de enfim deparar-me frente a frente com a morte e então finalmente, após aquele beijo, descansaria as minhas pupilas eternamente. Eu estava caindo, caindo em um buraco sem fundo e me recordo de um poema escrever usando como base o desespero frenético que sentira naquela hora.

Da loucura dos homens, enfim estou livre

Ao fundo eu me atirei

Sem pensamentos recorrentes

Estou eu, finalmente livre?

Livre para viver, livre para pensar

Para agir e para sentir

Pois é isso que eu quero mais que tudo

Escolhes parar de sentir

Quero a minha morte alcançar

E então o meu sofrimento sessar!

   Vi-me em um devaneio repleto de loucura, frenesi e medo; a medida que eu ia caindo, fui vendo reflexos de minhas vidas passadas, vi qual era meu destino naquela vida, escutei do Deus do escuro, qual era o sentido da minha vida enquanto humano, mas algo me intrigou. Estaria eu então me despersonificando do meu eu social e então me tornando algo a mais? Estaria eu deixando de ser humano?! Como é essa sensação? Tudo era estranho para mim naquele momento, tudo parecia diferente, o sentimento de catarse era algo bom e alegria algo ruim, vi-me rindo inúmeras vezes e sempre em desespero enquanto caia infinitamente naquele vazio inexorável, virei-me para cima e exclamei “Se alguém nesse lugar lúgubre me ouve eu clamo, tire-me a vida e acabe então com esse sofrimento eterno!”. Algo balbuciou naquele escuro infernal, alguma coisa havia ouvido minha prece, sinto percorrendo pela minha pele um temor difícil de explicar, hoje sei bem quem me chamou, hoje compreendo de fato as coisas que aconteceram naquele dia e posso lhes dizer, para resumir, um proverbio que resumiria minha situação naquele dia “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”.


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