“A loucura, de fato, é o começo de
todas as coisas essenciais.”
Hermann Hesse
Me lembro com detalhes do dia em que finalmente cheguei no
fim do mundo, era magnifico! Após vagar pelo deserto desolado e monótono no
escuro, via-me eu, o cavalo e a porta frente a frete da maior complacência que
já havia visto em toda a minha existência, infelizmente não consigo mensurar
lhes a incumbência da magnitude daquele esplendoroso e suntuoso, repleto de
detalhes mórbidos e uma paisagem estonteante de um vazio imensurável; estava eu
então no fim do mundo? Senti ali uma soberba de saber infinito, a ostentação de
detalhes moribundos a uma concepção de realidade desprezível, me dava naquele
finalmente, a sensação de paz que eu buscava durante toda minha simplória vida,
eu ali, diante do fim então, compreendi o que a meu ver era inexorável, entendi
o sentido da vida.
“Diante daquele magnifico tesouro, que de fato era real, ele riu!”
Eiichiro Oda
Perante a magnificência daquela obra de arte divina, na qual
os deus e demônios se juntaram para que em um dia de paz entre a guerra santa
entre as dualidade, pudessem então pincelar tamanha obra fastuosa que era “O
Escuro”. Sim senhores, senhoritas e entidades presente; o fim do mundo, nada
mais é do que a loucura daqueles que se sentem livres e de fato não são, eu em
minha incumbência, vendo os vislumbres desnorteantes daquele lugar dotado da
absoluta perfeição, ri, gargalhei, chorei e por fim, me joguei!
Junto da porta, que amarrada em minhas costas como a cruz de
cristo, senti-me o mártir de um novo eu, senti-me livre para fazer o que eu
quisesse, joguei-me naquele vazio imensurável, atirei-me a um vislumbre de um
futuro que eu, enquanto vivo e sem destino escrito, escolhi por livre e
espontânea vontade fazer. Dei-me a rir enquanto caia infinitamente por um poço
tomado de uma escuridão tão vil, que era incapaz de um ser humano ver sua
verdadeira cor; o preto absoluto daquele poço infinito tomou-me o coração assim
como um príncipe anseia pelo beijo doce de sua amada princesa. Ressoou-me cores
nítidas em minha mente, quatro eram no total; verde, roxo, azul e amarelo,
destes o sussurro do complacente dono daquela magnificência de incumbência
inimaginável me disse de fato, em latim “Hi sunt quattuor fundamenta” ¹. Eu não
precisava entender seu dialeto, as palavras vinham em latim em minha mente,
pois esta era a língua mais antiga que eu enquanto vivo, conhecia. Balbuciei e
gritei, como louco; notei-me enfim a beira de um colapso psicótico ao ouvir as
palavras do ser que rege aquele lugar profano a tudo racional, seu nome ele
sussurrava “Magnus, O Escuro”.
No salto de fé, me desprendendo de toda a concepção de
realidade e racionalidade, fiz-me uma alusão em minha mente, do desespero
alheio de todos que já vi, ouvi deles, o sussurro da morte; ela me disse um
nome “Lilith”; recordo-me de suas palavras doces, tão tênues e calmas que me
fizeram ficar completamente apaixonado, louco, estava eu ficando louco? Louco
pelo beijo da morte? Estaria eu em um delirium de enfim deparar-me frente a
frente com a morte e então finalmente, após aquele beijo, descansaria as minhas
pupilas eternamente. Eu estava caindo, caindo em um buraco sem fundo e me
recordo de um poema escrever usando como base o desespero frenético que sentira
naquela hora.
Da loucura dos homens, enfim estou livre
Ao fundo eu me atirei
Sem pensamentos recorrentes
Estou eu, finalmente livre?
Livre para viver, livre para pensar
Para agir e para sentir
Pois é isso que eu quero mais que tudo
Escolhes parar de sentir
Quero a minha morte alcançar
E então o meu sofrimento sessar!
Vi-me em um devaneio repleto de loucura, frenesi e medo; a
medida que eu ia caindo, fui vendo reflexos de minhas vidas passadas, vi qual
era meu destino naquela vida, escutei do Deus do escuro, qual era o sentido da
minha vida enquanto humano, mas algo me intrigou. Estaria eu então me despersonificando
do meu eu social e então me tornando algo a mais? Estaria eu deixando de ser
humano?! Como é essa sensação? Tudo era estranho para mim naquele momento, tudo
parecia diferente, o sentimento de catarse era algo bom e alegria algo ruim,
vi-me rindo inúmeras vezes e sempre em desespero enquanto caia infinitamente
naquele vazio inexorável, virei-me para cima e exclamei “Se alguém nesse lugar
lúgubre me ouve eu clamo, tire-me a vida e acabe então com esse sofrimento
eterno!”. Algo balbuciou naquele escuro infernal, alguma coisa havia ouvido
minha prece, sinto percorrendo pela minha pele um temor difícil de explicar,
hoje sei bem quem me chamou, hoje compreendo de fato as coisas que aconteceram
naquele dia e posso lhes dizer, para resumir, um proverbio que resumiria minha
situação naquele dia “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”.
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